junho 02, 2012


Senti aquele frio inexplicavelmente incômodo, que começa na barriga e termina em leves calafrios no pescoço. Eu havia embarcado para a Argentina, com todos meus problemas pessoais na esperança de vencê-los e construir uma nova vida. Estava profundamente equivocado [...]



Por:Fausto Passaia

Parte I 

Senti aquele frio inexplicavelmente incômodo, que começa na barriga e termina em leves calafrios no pescoço. Eu havia embarcado para a Argentina, com todos meus problemas pessoais na esperança de vencê-los e construir uma nova vida. Estava profundamente equivocado, e rio quando penso nisso. Na verdade me serviu para aprender que ninguém muda e sim modifica, mas o meu caso é outro...
 
Ao subir naquele ônibus com destino ao lugar mais distante que já teria ido até então, tive uma vontade enorme de chorar. Segurava as lagrimas porque sabia que quanto mais resistisse em ficar, pior seria. Sabia também que se não tentasse me arrependeria por toda a vida. É difícil explicar o que se sente em uma situação como essa. Minha vantagem era que não estava sozinho nessa jornada. Quero dizer, não estive sozinho ao ter a meu lado minha prima e não estive sozinho quando tomei a decisão de ir embora. Eu sempre sonhei com estar longe, conhecer o novo, respirar outros ares. Também me sentia deslocado, algo me dizia que eu precisava distanciar-me de tudo e de todos.
 
Eu tinha uma vida perfeita, quero dizer, eu sempre tive muitos desejos dos quais a maioria consegui, mas quando conseguia me frustrava; na verdade não era o que eu queria.


Deixei o emprego perfeito, a casa perfeita, os amigos de longa data, a família...para tentar uma nova vida em outro lugar. Eu tinha a convicção de que com todo o dinheiro que guardei, poderia dar os meus primeiros passos sem depender de meus pais, e assim foi. Troquei minha casa com cozinha, sala, quartos, televisão....por um Albergue centrico na louca e nostálgica capital argentina.

Meu quarto não tinha janela, minha cama era de molas com direito a quase encostar minhas costas no chão quando dormia. Meu banheiro, não era Meu banheiro, era de todos os moradores do lugar. Meu banho era um ritual minucioso de trocar-se antes que alguém entre, de aguentar a sujeira e o cheiro dos demais... A cozinha, eu prefiro não falar da cozinha...

Enfim, ali estive durante meses, eu e minha prima, dois brasileiros tontos e mimados tentando acostumar-se a vida no que eu chamava cinza melancólico.


Continua...                                                      


Você também pode contar sua história. Um passeio que veio fazer ou sua experiência vivendo aqui divida com outros sua história (enviar história).
 
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7 comentários:

  1. Muito bacana essa história, explorou mais o lado psicológico do cara, adorei também o jeito que foi escrito: “a cozinho... prefiro não falar da cozinha” Nem falou nada, mas já disse tudo, muito bom! Estou curtindo essa história e quero ler mais, ao mesmo tempo em que me identifiquei muito com a pessoa, chego a ter medo da minha futura experiência, pôs tenho intenções de também deixar meu país. De toda forma, por mais cabulosa que possa ser uma experiência no estrangeiro, é maravilhosa que compartilhem isso, pois assim, quando eu estiver no ônibus, deixando o Brasil e sentir vontade de chorar, saberei que não sou o único, saberei que é normal, saberei que então faço parte de um grupo composto por pessoas como você. Muito interessante essa história, não nos deixe esperando muito para conhecer o restante de sua jornada em Argentina. Identifique-me muito com você!

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  2. Deixou um ótimo emprego, a família e os amigos... tem que ter coragem para fazer isso. Estou precisando da mesma coragem, como se consegue?
    Parabéns pela história, muito boa, quando postam mais?

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  3. Oi, eu diria que se tu tem um sonho tem que agarrá-lo com todas as forças. Se é mesmo o que tu quer, vai ver que vale mais a pena largar tudo que viver com a dúvida de como teria sido.

    Olha, eu mando os textos pra um amigo quando ele me pede...então por agora não me pediu mais nada...hehe daí eu não sei te dizer se vai ter ainda textos meus.

    Obrigado pelo comentário, desculpe demorar pra responder é pq realmente eu não olhei até agora e vi que estavam reclamando que eu não respondo de mala leche, mas não é assim não!! hehehe Abz e Força!

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    Respostas
    1. Fausto, você nenhum dia se arrependeu de ter ido para a Argentina?

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    2. Sim, me arrependi em vários momentos, mas logo passa. A cidade mesmo me passa essa energia que não encontro la no Rio Grande do Sul. Me sinto mais independente, amo meus estudos e meu trabalho aqui...tudo é uma questão de enraizar-se eu diria, só assim agente deixa de se arrepender(porque pra mim arrepender-se não é só uma vez, é sempre quando te bate aquele desespero ou aquela depressão, mas isso pasa até que não vem mais)

      Abraço

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    3. Não sei se foi de propósito mas ficaram bem poéticas suas palavras :)

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    4. Obrigado, mas eu não mereço tantos elogios...isso foi elogio?? hehehe

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