junho 02, 2012

Uma Aventura em Buenos Aires Parte II



Por: João Guilherme
Uma Aventura em Buenos Aires, parte II
Quando finalmente chegamos à fronteira era madrugada, acordei quando senti o caminhão parar. Estávamos cruzando a fronteira, policiais queriam ver documentos, revistar a carga etc. [...]



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Parte II

Peguei carona com um caminhoneiro. Foi à opção mais barata que encontrei, ele não me cobrou nada. Assim de Florianópolis fomos atravessando cidades e cruzando estados em seu caminhão, era mais divertido do que eu havia imaginado. Conversávamos com outros caminhoneiros pelo rádio, às vezes revezávamos na direção e assistíamos canais locais em sua mini TV. 

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Conversávamos muito e vez ou outra parávamos na beira da estrada para tirar fotos de alguma paisagem bonita ou por do sol deslumbrante. Carregando minha câmera profissional - apesar de não ser fotografo profissional, sempre gostei de fotografar – consegui guardar muitos momentos lindos.

Quando finalmente chegamos à fronteira era madrugada, acordei quando senti o caminhão parar. Estávamos cruzando a fronteira, policiais queriam ver documentos, revistar a carga etc. Procedimento padrão, em 10 minutos estávamos liberados, finalmente estávamos sobre solos uruguaios, minha primeira experiência internacional. De alguma maneira que não sei explica como e nem porque, era emocionante. 

De manhã paramos em uma parada de estrada grande, para tomar um café e tomar um banho. Bem, eu fui tomar banho e o caminhoneiro ficou no caminhão revisando o motor, pneus etc. Quando fui até o caixa para pagar o ticket e poder ir ao banheiro banhar-me descobri que não aceitavam reais. Eu não tinha cambiado o dinheiro, então fiquei sem poder tomar banho. Voltei ao caminhão e o caminhoneiro não espera ver-me tão cedo, peguei-o de surpresa.
O sujeito estava se agarrando atrás do caminhão com uma menina de uns 18 ou 20 anos de idade, definitivamente pelo menos 20 anos mais nova que ele. Dei meia volta fingindo não ter visto nada mas a menina disse algo que me deteve:
- Ayúdame! Ela disse num tom de desespero. Dizia outras coisas mais em espanhol que eu não podia entender, mas percebi que havia tensão em sua voz.
Voltei até os dois e ele a agarrava a força tentando levantar sua saia enquanto ela me pedia ajuda desesperada. Levei um choque, não esperava por algo assim, depois de 24 horas viajando juntos ele me parecia gente boa, de repente o vejo agarrando uma menina a força.
- Solta ela, ela não quer... Lhe ordenei que a soltasse, já que da maneira como ele estava fazendo é crime. Depois daquela viagem juntos, eu me sentia um pouco amigo dele, então imaginei que ele me daria ouvidos, mas ele não deu.
- Por que não vai arranjar uma pra você também? Já provou carne uruguaia?
Ele continua apalpando-a e a menina começa a chorar, então eu o faço entender que eu estou falando sério. O puxo pelo braço afastando-o da menina que ao livrar-se do velho pervertido, corre. 
- Quem você pensa que é para bancar o herói comigo? O caminhoneiro se irrita e me acerta um soco no meio da cara. Eu sinto tudo girar ao meu redor e quando me dou conta percebo que meu corpo está tombando. Eu caio no chão como um abacate podre caindo do pé. Sinto o sangue escorrer do meu nariz.
O caminhoneiro pega a minha carteira e corre para o caminhão. Eu me levanto ainda tonto, mais abalado pelo inesperado ocorrido do que pelo soco em si. Ouso o motor do caminhão, o safado quer se manter com a minha grana. O veículo começa a se mover, ainda tonto, corro desengonçado até a cabine do piloto e antes que o caminhão possa tomar velocidade eu me agarro no retrovisor:

- Me devolve minha carteira! O velhaco já acostumado com a malandragem se livra de mim rapidamente. Ele abre a porta do caminhão, derrubando-me no chão, no meio da estrada. Rolo umas duas vezes e escorio meu cotovelo. Já era, nunca mais vou ver o safado outra vez. Agora estou no estrangeiro, sem dinheiro e sem documento.

Já havia chegado longe demais para voltar e nem queria voltar, então decidi que prosseguiria a viagem assim mesmo. Saio da estrada com pressa e tapo o nariz para parar o sangramento. Vou até a lanchonete onde recebo auxilio e de lá um uruguaio oferece me levar até a rodoviária de Punta del Leste. Eu sei que depois de uma experiência como essa a última coisa que eu deveria fazer era pegar carona novamente, mas eu não tinha outra opção, então fui.

Durante o percurso tentávamos conversar, espanhol e português, íamos entendendo aos poucos. Depois de pouco tempo de viagem chegamos, ai comprei passagens para Montevideo, onde eu tomaria uma barca até Buenos Aires. Enquanto esperava pelo ônibus vi que logo em frente à rodoviária estava uma praia com o famoso monumento da mão gigante com os dedos que saem da areia. Gostei de estar ali naquele momento, tirei muitas fotos e passeei por uma parte da praia onde há tantas conchas no chão que nem se pode caminhar descalço e nem se vê a areia, apenas conchas e mais conchas.                
Tomei o ônibus para Montevideu e a viagem me levou algumas horas. Desembarcando em Montevideu, já era tardinha, logo escureceria. Decidi passar a noite ali e viajar no dia seguinte de manhã cedo. Eu teria a noite inteira para bolar uma maneira de tomar aquela barca sem pagar, já que eu não tinha nem um centavo. 

Foi naquela noite que tive uma das ideias mais perigosas da minha vida.



Você também pode contar sua história. Um passeio que veio fazer ou sua experiência vivendo aqui divida com outros sua história (enviar história).
 

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5 comentários:

  1. Nossa essa experiência foi incrível, e a forma como foi narrada, muito boa, parece tirada de um livro de contos. Uma experiência e tanto de vida, surreal! A parte da menina atrás do caminhão, nossa me chocou, como são as coisas nessa vida. Um sujeito que você jamais diria ser um canalha, de repente se mostra um de alto nível. Em fim, foi uma experiência e tanto, estar na praia com o famoso monumento das mãos gigantes deve ser espetacular, é um sonho que tenho, estar lá um dia. Essa história daria um filme e sem dúvida uma das frases de mais impacto seria: “Agora estou no estrangeiro, sem dinheiro e sem documento.” rs... Muito bom o texto, a forma como foi escrito e o conteúdo em si. Adorei, e gostaria de ler mais. A propósito, fiquei com algumas dúvidas: você já falava espanhol? Como comprou passagem para Buenos Aires se teve sua carteira roubada? Comprou com real ou pesos? Conseguiu fazer o cambio? Desculpe tantas perguntas, mas é que a história realmente me interessou!

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  2. Muito interessante essa história, engraçado que a chamada parece ser a parte mais intrigante da história, mas quando se acessa o link completo para ler tudo, vê-se que o melhor ainda está por vir.

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  3. É realmente a história do João Guilherme é bem interessante, quando vão postar a parte III?
    Leonardo, eu acho que ele não fala espanhol.

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  4. Respondendo ao The Online NERD Buddy, toda semana postamos mais um parte da crônica.
    Para Leonardo, ele não fala espanhol, como compra a passagem para Buenos Aires e se em reais ou pesos nem mesmo eu sei ainda, o autor ainda não nos mandou a próxima parte da história rsrs
    Realmente as histórias aqui são muito interessantes, as pessoas passam por cada coisa que nem imaginamos.

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  5. Nossa, que coisa MAIS MENTIROOOSAAAA.
    Pessoa carente de atenção.

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