junho 02, 2012

Um Aventura em Buenos Aires Parte I




Uma Aventura em Buenos Aires. Como um sujeito ordinário e comum, tornou sua vida emocionante.
Prepare-se para um pouco de aventura e romance de uma vida real.[...]
 


Por: João Guilherme
Parte I


Oi, meu nome é João Guilherme e deixo relatado aqui para vocês a minha história com a Argentina. Como tudo começou, quando me apaixonei e os perigos que passei para tornar um sonho realidade.
 
Exatamente no dia do meu aniversário calhou de cair a minha formatura na faculdade; formei-me em artes plásticas. Quando eu estava para prestar vestibular, elegendo qual faculdade cursar, meu pai me disse para seguir meu coração e estudar algo que eu gostasse de verdade, e assim eu fiz. 

Agora, quatro anos depois, estou graduado, o melhor presente de aniversário que eu poderia ganhar, mas então chegou a hora de entrar no mercado de trabalho. Só então abri os olhos para a realidade e percebi que no Brasil não existe oportunidades nessa área.

Um ano e três meses se passaram e eu não conseguia nem mesmo bicos na área em que me formei; os problemas com as contas para pagar já estavam tirando o meu sono de noite e o desânimo já era mais forte que eu. Finalmente percebi e assumi que eu tinha tomado à decisão errada; é preciso seguir o coração e trabalhar no que se gosta, mas sem esquecer-se de que sempre haverão contas a pagar no final de cada mês das nossas vidas. 
Então terminei como muitos profissionais brasileiros com diploma debaixo do braço terminam, trabalhando em um empreguinho qualquer, ganhando um salário mínimo, sem ser valorizado e sem nenhuma expectativa de prosperar profissionalmente.
Como tive acumulado muitas dívidas vivendo tanto tempo sem emprego e gastando com projetos que tentei, tive que pagar tudo que devia e mais as contas mensais que nunca param. Então trabalhei nesse trabalho miserável por dois anos sem conseguir juntar nem um centavo. 
Esse emprego me deixava doente. Eu trabalhava seis dias por semana, durante qualquer feriado e com uma carga horária de mais de 70 horas por semana. Nunca ganhei um centavo de hora extra e muitas vezes cheguei a dormir no escritório por que já era tarde demais pra ir para casa e voltar na manhã seguinte.   
Depois desses dois anos finalmente passei a juntar algum dinheiro, mas com um salário mínimo não se consegue juntar tanto. Eu me olhava no espelho e via uma pessoa de aparência doente, magro, que vivia para trabalhar, que não pratica (não tem tempo para) esporte nem nenhum lazer, que nunca sai e que não tem amigos. Depois de mais de dois anos nesse ritmo, eu já não aguentava mais, sentia-me como se estivesse enlouquecendo.
Eu via minha família se reunir em natais, viajar em carnavais e celebrar aniversários e eu sempre faltando, só trabalhando. Desconfiava estar com depressão, mas assalariado no Brasil não pode se dar ao luxo de ficar doente e nem tem tempo para tratar-se. Então seguia na minha vida (que eu passei a odiar) por que era um ciclo que eu não conseguia parar. É preciso trabalhar para viver e é preciso viver para trabalhar. 

Todos os meus sonhos da época da faculdade se esvaíram, agora eu já tenho quase trinta e não gosto de quem eu sou e nem da vida que tenho. Preciso fazer algo sobre isso, antes que eu surte de vez.
Eu já não era aquele cara sorridente e de aparência saudável, positivo e motivado que eu costumava ser, faz muito tempo. 
Mesmo insatisfeito com a minha vida, ainda permaneci mais um ano naquele trabalho. Quando se trabalha mais de 10 horas por dia, seis dias por semana, tem-se a sensação de que sua vida é só trabalhar, no final de três anos eu sentia-me como se todo esse tempo houvesse sido apagado da minha vida. Não havia lembrança de nenhum momento feliz, nenhum passeio ou filme que assisti, nenhum restaurante ou amigo que visitei, nada.    
No trigésimo sexto mês a luz no meu apartamento foi cortada. Esqueci-me de pagar a conta. Prometi a mis mesmo que não tocaria o dinheiro que juntei, então passei o mês vivendo no escuro, como um bicho noturno. Algumas noites até dormia no trabalho sem necessidade, por não ter nenhum ânimo de voltar para casa. 
Nos mês seguinte consegui dinheiro para pagar a luz, mas havia uma taxa a pagar para religar e o que sobrava do salário miserável não alcançava o valor a ser pago no total. A menos que eu deixasse de juntar esse mês, mas não, não ei de mudar os planos. Segui vivendo no escuro, eu nem passo tanto tempo em casa mesmo.
 Nos meses seguintes sofri de tonteira algumas vezes com perda da visão momentânea. Provavelmente era porque não me alimentava bem, mas não tenho opção, o auxilio alimentação que a empresa me dá é de R$3 por dia. Que ser-humano se mantêm de pé com R$3 reais por dia? Eu trabalhava num dos bairros nobres do Rio, o que se pode comprar para comer lá com R$3 reais?
Pedi folga par ir ao medico e o patrão me liberou, mas me disse que eu não aparentava estar doente, insinuando que eu estava apenas querendo tirar um dia de folga. E completou dizendo que a empresa não gosta de funcionário que fica doente, ameaçando indiretamente de despedir-me caso voltasse a acontecer.
O doutor me disse um monte de baboseira que eu não teria como cumprir, como por exemplo, me alimentar bem, dormir no mínimo oito horas e não me estressar tanto. Como se eu tivesse pedido a deus a vida miserável que eu tinha.
Por mais alguns meses segui trabalhando e além da luz cortaram também meu gás e telefone. Já ia para quase quatro anos naquela subvida quando decidi que já não suportava mais. Cheguei ao meu limite. 
Eu não tinha planos, mas arrumei as malas e peguei todo o dinheiro guardado. Mil e setecentos, mil e oitocentos, mil e novecentos... Dois mil. É isso, depois desse tempo todo trabalhando eu tinha conseguido juntar dois mil reais.  Decidi viajar por um longo tempo. Chequei na internet todos os lugares lindos que eu gostaria de conhecer. Minha ilusão durou apenas cinco minutos. Rapidamente descobri que com dois mil reais não se vai a lugar nenhum. Fiquei muito decepcionado quando descobri que brasileiro assalariado não pode conhecer o próprio país.
Me lembro naquele final de tarde, estava sentado em uma LanHouse com a mochila arrumada, pronto para partir, mas de repente minha vida pareceu não tem rumo. “E agora o que fazer, para onde ir?
www.zazzle.com
Eu acho que estava meio louco, dizem que viver deprimido por muitos anos, sem tratamento, pode tornar o individuo louco. Eu realmente acho que de fato eu estava meio louco, pois queria sair e aproveitar os quatro anos da minha juventude que eu estava perdendo, então voltei a buscar destinos na internet.
Dessa vez busquei qualquer coisa com a palavra “barato” junto. Não sei quanto tempo levei ali separando o que servia no meio de tanta porcaria, mas vi muita gente falando da Argentina, Buenos Aires. Dizendo ser linda e não cara. Uma curiosidade e desejo começaram a queimar em mim, nunca tinha pensado em sair do país, de repente a ideia parecia excitante.   
Mesmo assim, dois mil reais não me manteriam lá pelo tempo que eu gostaria, então busquei as formas mais baratas de viajar pesquisando com mochileiros e essa gente que viaja sem se importar com nada.
Infelizmente mesmo eles ainda estavam num nível muito elevado para mim. Quero viajar por um ano e nenhum mochileiro europeu conseguiria essa façanha com a merreca que eu tenho disponível. Então foi quando decidi por em prática o jeitinho brasileiro para solucionar meu problema. Decidi também que economizaria o máximo com a viagem, para desfrutar lá e manter-me pelo máximo de tempo possível.
É ai que a minha vida começa a ficar interessante, só quando eu tomei as rédeas da vida, foi que as coisas se tornaram excitantes e viver passou a ser emocionante de novo.
Fui para a rodoviária Novo Rio e de ai tomei um interestadual que me levaria para Florianópolis. Ainda sem saber como exatamente, tinha planos de em Floripa conseguir um transporte mais barato até o Uruguai, onde eu atravessaria até a Argentina. Foi uma viagem incrível, vi muita coisa nova, conheci gente e experimentei comidas que nunca havia comido antes.
  
Quando finalmente tomei o transporte que me levaria ao Uruguai, consegui algo muito barato sem ter a menor ideia do perigo em que estava me metendo.   

Continua... 

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2 comentários:

  1. Identifiquei-me muito com o João Guilherme, até porque meu pai me deu o mesmo conselho e passei pelo mesmo perrengue de não conseguir emprego. O Brasil tem um mercado e trabalho limitadíssimo, ganhar dinheiro aqui é como tirar leite de pedra. O auxílio refeição de R$ 3,00 diários é cruel mesmo, tem empresa que chega a este nível, me recordo que trabalhei 6 meses em uma empresa que pagava R$ 3,75 por dia para o lanche. Sinceramente, esse valor nem auxílio é, considerando que no Centro do Rio de Janeiro um salgado dormido de três dias está custando R$ 3,00 (e salgado à seco é f...). dramática esta história, mas sabemos que é real, esse lance do patrão insinuar que você não está doente coisa nenhuma, que só quer uma folga extra, existe mesmo. Patrão é tudo igual, infelizmente vê o funcionário como os senhores de engenho viam os escravos há 400 anos. E o pior de tudo é que para se ter uma vida saudável, deve-se fugir completamente do padrão de vida que necessitamos ter, quando recebemos uma renda ao redor do salário mínimo.
    Wow! Esta história é uma realidade nua e crua que chega a nos cair ácida. Passar quase 3 anos pra juntar 2 mil reais e perceber que não se pode fazer nada com esse dinheiro é tenso. Aconselho a leitura deste blog a todos que tenham interesse em viajar por longas datas, para fora de seu país, ou mesmo para dentro dele. Quero continuar lendo essa história.

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  2. Sem dúvida a Argentina é um dos países que um dia, se Deus quiser pretendo conhecer, o povo é maravilhoso, não tenho rivalidade nem no futebol. Que belo texto, abraço. Voz do Povo.

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