Rocio
descobre que eu vivo nas ruas. Apesar de não nos conhecermos a tanto tempo,
criamos uma conexão muito forte e de repente saber que eu menti todo esse tempo
à deixa chocada.[...]
Uma Aventura em Buenos Aires Voltar para Parte III
Parte IV
Sempre
a mesma cadela, de vez em quando, aparece lá pelo obelisco a procura de comida,
mas eu sem dinheiro, não vou ficar dividindo meu almoço com vira-lata. Então
sempre a expulsava de perto de mim quando vinha me olhar comer.
Num
dia qualquer, um dos hippies que ficam no obelisco vendendo bijuterias, que
conversam com agente as vezes, sem querer (afinal ele não sabia que eu escondia
da Rocio que vivia na rua) comentou que ontem enquanto eu dormia, a cachorra
deitou do meu lado, para me aquecer e se aquecer do frio. E foi ai que Rocio
descobriu. Tudo por causa da maldita cachorra.
Eu
lhe explico que menti, pois não sabia como ela reagiria. Afinal, quem daria
bola para um mendigo. As coisas não podiam ficar melhores, mas então isso
acontece. Fiquei preocupado, com medo de ela não querer voltar a me ver, mas
foi ai que, mesmo estando perfeita, a minha vida melhorou ainda mais.
Rocio
me convida para ir morar com ela. É um apartamentinho pequeno na rua Agüero, que apesar de ser em um bairro bacana,
o AP não tinha nada de bacana. Era bem pequeno mesmo e humilde. Mas eu estava
vivendo o melhor momento da minha vida.
Naquela noite
dormimos juntos pela primeira vez. Era cama para um, então dormimos abraçados e
eu descobri como é bom dormir junto no frio e o que é a famosa cucharita. Mesmo não tendo acontecido
nada naquela noite, foi uma noite inesquecível.
Era ótimo dormir em
uma cama novamente. Tomávamos café juntos e íamos trabalhar juntos. Trabalhávamos
juntos. Indo para o trabalho, caminhando, passávamos sempre em frente ao
Shopping Alto Palermo. Cheio de luzes e restaurantes bacaníssimos, sempre me
fazia pensar em como eu gostaria de passar uma tarde ali, um dia.
Já dormíamos juntos
a uma semana, caminhávamos de mãos dadas, tínhamos brilhos nos olhos, era tudo
obvio, todos os sinais de que estávamos apaixonados, só nos faltava assumir.
Era obvio que ela estava esperando pela minha iniciativa e eu já não queria
esperar mais, cada hora que passava tornava-se mais difícil olhar para aquele
rosto angelical e não beijar aquela boca tão vermelha, mas que de batom não
era. Vermelho natural, como todo o resto da sua beleza.
Então um dia,
debaixo do obelisco (minha parte favorita da cidade), bem embaixo mesmo, ali
onde está gravado “Capital Federal. Ley
dictada por el congresso nacional el XX de septiembre de MDCCCLXXX etc etc etc”
, nós nos sentamos para jantar. Compramos uma pizza em uma pizzaria ali nos
arredores do obelisco mesmo, pizzaria que não é cara, compramos uma calabresa
que era a mais barata. E sentados ai, debaixo do obelisco, comíamos felizes,
felizes como só a paixão pode te deixar.
Nessa noite, depois
de tantos momentos perfeitos para um beijo, depois de tantos momentos que
rolaram climas, mas que eu perdi a deixa, eu finalmente decidi não perder mais
tempo. Eu queria passar o resto da minha vida beijando aquela boca e não iria
mais prorrogar.
Três camaradas
tocavam um tango para ganhar um trocado, e junto com o luar, criavam um
ambiente perfeito e romântico. Enquanto ela falava, eu a olhava fascinado e
mesmo depois que terminou de falar eu continuava a admirar. Mas admirar é
diferente de apenas olhar e ela percebeu isso, e ai rolou um clima e eu me
aproximei, e ela deixou eu me aproximar. Então eu a beijei, e ela retribuiu.
Nem preciso dizer
que os dias seguintes eram só maravilha.
Carro passava em cima de possa e me molhava e eu não estava nem ai. Quando o sujeito está apaixonado como eu estava, nada estraga o dia. Até passei a dividir minha comida para a cachorra magrela que aparecia lá pelo obelisco às vezes. Eu vivia sorrindo e assobiando. Sempre a admirava enquanto cantava, meus olhos não podiam se acostumar com a sua beleza.
Carro passava em cima de possa e me molhava e eu não estava nem ai. Quando o sujeito está apaixonado como eu estava, nada estraga o dia. Até passei a dividir minha comida para a cachorra magrela que aparecia lá pelo obelisco às vezes. Eu vivia sorrindo e assobiando. Sempre a admirava enquanto cantava, meus olhos não podiam se acostumar com a sua beleza.
Mas felicidade de
pobre dura pouco, então numa noite qualquer, pouco antes do horário que
geralmente vamos para casa, por volta das 11:00PM, um sujeito me aborda.
-Vejam só quem eu encontrei... Me viro
para ver quem é e é o caminhoneiro que me deu carona até o Uruguai. – Até que chegou bem longe em moleque. Sabe
aquela transada que você interrompeu? Então, você ainda
não terminou de pagar por ela não. Me dá teu dinheiro moleque. Anda, me dá teu
dinheiro antes que eu tome ele de você a força e te de uma surra.
Fico sem reação,
nunca fui bom em situações tensas. Não sei o que fazer, não sei brigar. O homem
apesar de velho tem o antebraço da grossura da minha coxa e é malandro, já se
envolveu em brigas. Tenho o dinheiro de todo o trabalho do dia inteiro e
passamos aperto para viver, não posso deixar que ele tome de mim, além do mais,
é também o dinheiro da Rocio e eu não posso ser humilhado na frente dela.
-Desculpa, mas não vai dar não. Foi o
melhor em que eu consegui pensar.
-Ah não vai dar não? Então agora você vai ficar sem dinheiro e sem
dente, seu folgado. Aproveitando que
estou sentado o velho tenta chutar a minha cabeça. Protejo o rosto com meu
braço, mas mesmo assim ele me machuca e me joga estirado no chão. – Você vai aprender a nunca mais interferir a
transa dor outros. Então ele me acerta um chute em cheio no estômago e eu
perco o ar por alguns segundos.
(Eu sabia que ele
roubaria também a minha câmera profissional que eu tinha levado comigo para tirar fotos de
Rocio)
Rocio começa a
gritar para ele parar e pedir socorro ao mesmo tempo, mas às 11:00PM o centro
já não está lotado como durante o dia, já não se vê policia com tanta frequência
e a pouca gente que sobra se afasta com medo. Ninguém iria me ajudar. A
situação se torna cada vez pior e não há nada que eu possa fazer para fazê-lo parar.
Você também pode contar sua história. Um passeio que veio fazer ou sua experiência vivendo aqui divida com outros sua história (enviar história).
Muito legal *_* Meu Deus, merece um filme, com certeza! Um livro seria muito pouco! Ansiosa! =B
ResponderExcluirObrigado Helena, que bom que você está gostando. :D
ExcluirMeu Deeeeus essa história daria um filme!!!
ResponderExcluirPublica logo o resto estou muito envolvida na história...
Também morei em Buenos Aires 2 anos e foi a melhor experiencia da minha vida... quantas saudades!!!
Obrigada MaryJam, fico feliz que você esteja gostando. Já já postaremos mais, estamos esperando o autor enviar a próxima parte :)
ExcluirCadê o resto? Preciso da Continuação da História
ResponderExcluirSim Alessandro, ai vai o resto da história: http://vivendonoestrangeiro.blogspot.com.ar/2012/11/uma-aventura-em-buenos-aires-parte-v.html
ExcluirVc é bom de historia hein meu filho, forest gump!! Nao tem como dormir no metro tampouco entrar no buquebus sem pagar pq tem chamada e apresentacao de documentos para cruzar o rio laplata
ResponderExcluir